Dr Waldemar colabora para a matéria da revista Crescer, informando e alertando sobre um vírus comum na gravidez, o Citomegalovírus.

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Mãe perde dois de seus trigêmeos devido à vírus comum na gravidez; entenda a doença

Os bebês contraíram, no útero, um vírus chamado citomegalovírus

Uma mãe do Reino Unido perdeu dois de seus trigêmeos devido a um vírus chamado citomegalovírus. Os bebês foram infectados ainda no útero. 

Em entrevista ao site de notícias local Echo, Vicci Dunn, 36, que mora na Inglaterra, contou que viajou com seu marido, Paul, para o Chipre pouco antes da pandemia começar, para passar por uma fertilização in vitro. Eles já eram pais de Alfie, 4. 

Ela fez sua primeira ultrassonografia depois de voltar para casa, em abril de 2020. “O ultrassonografista disse ‘há um, há outro e há outro’, então Alfie perguntou: ‘são borboletas?'”, lembrou a mãe. Mais tarde, o casal descobriu que esperava duas meninas e um menino – Heidi, Harriet e George. 

Vicci foi informada que Heidi e Harriet não estavam crescendo e que ela precisava “se preparar para o pior”. Quando a mãe deu à luz, Harriet e George pesavam aproximadamente 1,1 kg e Heidi pesava apenas cerca de 600g. Os bebês foram levados às pressas para cuidados especializados. 

Quando a mãe acordou, depois de passar por uma cirurgia de emergência, foi levada a uma sala para ver uma equipe ressuscitando Heidi. “Eu ainda não a tinha visto e lá estava ela sendo ressuscitada – foi completamente surreal. Eu estava chorando em pânico total, apenas acariciando seu pé e desejando que ela não desistisse”, contou. 

Vicci foi informada de que Heidi não sobreviveria depois que houve um sangramento em seu cérebro. “Na época, era tudo sobre a criação de memória. Nós reunimos os bebês e tiramos fotos e, depois, ficamos em uma sala separada, onde seguramos Heidi e esperamos que ela morresse”, disse a mãe, em seu triste relato. 

Os médicos, então, descobriram que Harriet estava com uma infecção e logo seu estado de saúde começou a piorar. “Os pulmões de Harriet não estavam funcionando direito. Foi tão doloroso ver tudo acontecer de novo. Paul e eu nos sentimos tão sozinhos”, relatou Vicci. A pequena também não resistiu e faleceu pouco tempo depois. Uma autópsia revelou que Harriet e Heidi contraíram citomegalovírus no útero

George passou seus primeiros três meses no hospital, mas depois pode ir para casa em segurança. Agora com nove meses de idade, o pequeno está saudável. “Alfie nunca conheceu Harriet e Heidi, mas falamos abertamente sobre elas o tempo todo. Usamos a ideia das borboletas de que ele falou naquele primeiro ultrassom e de que elas voaram para o céu”, conta a mãe. 

Vicci agora atua em uma instituição de caridade, ajudando outras mães que também perderam seus filhos. “Esqueça o desconforto das pessoas, fale sobre isso, ajuda muito. E tente se permitir curtir momentos sem se sentir culpada, você não pode deixar isso te consumir”, aconselhou. 

O que é o citomegalovírus? 

Micro-organismo da família dos vírus da catapora e do herpes, o citomegalovírus é transmitido por transfusão de sangue, via respiratória (como a gripe) ou da mãe para o bebê. Ele afeta entre 0,4% e 6,8% dos recém-nascidos no Brasil. Durante a gestação, pode ser combatido com antivirais que diminuem, porém não zeram, o risco de complicações para o feto. Como o vírus ataca os tecidos cerebrais, causa malformações no sistema nervoso central. Também é capaz de provocar surdez, dificuldades de aprendizado e, se for grave, pode matar. 

O vírus é muito comum entre crianças pequenas e pode ser transmitido para a mãe pela saliva, sangue, urina e outros fluídos corporais. Por isso, mães grávidas são aconselhadas a não comer sobras de comida do prato de seus filhos. 

Waldemar Carvalho, ginecologista e obstetra, especialista em infecções em reprodução humana do Instituto Ideia Fértil (SP), explica que a principal dificuldade em conter a transmissão desse vírus é que seus sintomas passam despercebidos e as mães podem nem saber que seu filho está infectado. “Em crianças e adultos com uma imunidade normal, o citomegalovírus pode passar batido, sem nenhum sintoma, ou assemelhar-se a um quadro viral leve, com alguma coriza e, raramente, uma febre”, afirma. 

Um teste para o vírus é exigido como parte do pré-natal aqui no Brasil. “Se a gestante já teve contato com o citomegalovírus, o que deve aparecer no teste, não há motivo para se preocupar porque ela está imune. O alerta vale para as mães que nunca entraram em contato com o vírus. Elas devem adotar todas essas medidas para proteger o feto”, explica o especialista.